O Fim do Jornalismo, o Renascimento da Comunicação
O seminário decorreu este sábado, nas instalações da ESJ
24 de novembro, 2025
Com o início do novo ano letivo, regressaram os seminários presenciais e online promovidos pela Escola de Jornalismo do Porto, em parceria com o Instituto Europeu de Estudos Superiores. Este sábado, recebemos alunos atuais e de anos anteriores para a abertura de uma discussão subordinada ao tema “O fim do jornalismo, o renascimento da comunicação”.
Carlos Magno, Custódio Oliveira e Gabriela Marques juntaram-se num debate marcado pela franqueza e pela inquietação sobre o futuro da profissão do jornalismo e as novas dinâmicas subordinadas à comunicação.
A questão da independência editorial surgiu como um dos eixos centrais da sessão. Foi descrita como o problema mais sério que afeta hoje o jornalismo, fragilizando a capacidade dos profissionais para investigar, questionar e contrariar interesses instalados.
Recordou-se, por várias vezes, que o jornalista deve ajustar-se aos factos, ao invés de moldar os factos para se encaixarem numa narrativa pré-definida.
Os oradores sublinharam que uma parte significativa da informação que circula — estimada em cerca de “80% de notícias falsas” — resulta da perda de compromisso com a realidade. Nesta visão, o jornalismo tem abdicado do rigor e das perguntas fundamentais, entregando-se a um fluxo constante em que as notícias geram novas notícias, numa espiral que raramente se detém para confirmar, contextualizar ou duvidar.
A reflexão centrou-se também na transformação do público. O cidadão já não quer apenas assistir; quer participar, ser parte ativa do processo comunicativo. Esta mudança redefine o papel do jornalista e exige uma reaproximação ao essencial.
A liberdade foi tratada como condição fundadora. Sem liberdade não há jornalismo, afirmou-se com ênfase. Quem controla a pergunta controla a narrativa e a capacidade de formular perguntas livres e incómodas é o que distingue a comunicação de qualquer forma de propaganda.
Uma asserção que suscitou curiosidade no debate foi a ideia de que, mais do que verdade ou mentira, o que realmente importa é a relação entre certeza e dúvida. O jornalismo, neste enquadramento, não é apenas um transmissor de verdades, mas um método de verificação contínua.
De facto, o jornalismo vive, hoje, uma crise existencial e só poderá sobreviver se recuperar a sua espinha dorsal, feita de liberdade real para perguntar, rigor e investigação, responsabilidade perante a certeza, independência editorial, rejeição da ficção e da manipulação, e capacidade para resistir tanto aos poderes autoritários como às fontes interessadas ou compradas.
O seminário terminou com a convicção de que o renascimento da comunicação não terá sentido sem uma reconfiguração profunda do próprio jornalismo, devolvendo-lhe missão, método e coragem.